Por que mulheres maduras deixaram o artesanato para trás?

0
A mudança silenciosa que afastou mulheres do bordado, crochê e tricôDurante décadas, peças feitas à mão eram parte do cotidiano feminino: panos de prato bordados, mantas de crochê, blusas de tricô e pequenos trabalhos que circulavam entre vizinhas, parentes e amigas. Hoje, porém, a cena mudou. Em praças, feiras e encontros locais, o artesanato manual tornou-se menos comum entre mulheres acima dos 40 anos. O fenômeno é resultado de transformações econômicas, culturais, geracionais e tecnológicas que alteraram profundamente a relação das mulheres com o tempo, com o trabalho e com os próprios significados do fazer manual.

Tempo cada vez mais escasso

O primeiro fator é a mudança na rotina de trabalho. A inserção massiva das mulheres no mercado formal, somada à ampliação das jornadas e ao desgaste do dia a dia, reduziu drasticamente o espaço para atividades manuais que exigem paciência e continuidade. Quando o tempo livre se torna limitado, o artesanato costuma ser o primeiro a sair da agenda. A lógica é simples: com menos horas disponíveis, é natural priorizar descanso, família ou outras formas de lazer mais rápidas.

Um valor simbólico que se transformou

Durante muitos anos, saber costurar, bordar ou tricotar era visto como obrigação doméstica feminina. À medida que movimentos culturais e sociais romperam esse padrão, muitas mulheres deixaram de enxergar essas práticas como parte da identidade feminina desejável. O resultado foi uma quebra na continuidade: o que antes era transmitido de mãe para filha deixou de ser expectativa social. Apesar disso, nichos específicos transformaram o feito à mão em expressão estética, artística ou terapêutica — mas essa revalorização ocorre em grupos menores, não na maioria.

A força do consumo pronto

A oferta de produtos industrializados baratos reduziu a necessidade prática de produzir em casa. Comprar uma peça pronta tornou-se mais rápido e, muitas vezes, mais econômico. Além disso, o artesanato também se profissionalizou: muitas artesãs migraram para vendas online e feiras, um modelo que exige tempo, dedicação e estratégia — distante do artesanato como passatempo tranquilo que antes predominava.

A disputa com o lazer digital

Com a expansão das redes sociais, séries, vídeos curtos e entretenimento digital, o tempo livre foi preenchido com atividades instantâneas. Embora existam comunidades online dedicadas ao craft e um revival entre jovens, a prática ganhou outro formato: projetos pequenos, peças decorativas e conteúdos para redes, sem o vínculo intergeracional que antes sustentava a tradição.

Quebra na transmissão de saberes

Com famílias mais dispersas e comunidades menos integradas, diminuir a convivência entre gerações afetou diretamente o aprendizado. Muitas mulheres de hoje não tiveram alguém próximo para ensinar, compartilhar técnicas ou incentivar a continuidade da prática. Sem essa rede afetiva, o artesanato perde espaço.

O futuro aponta para uma transformação, não para o desaparecimento. Hoje, o artesanato vive em nichos: terapias ocupacionais, pequenos grupos urbanos, projetos personalizados e microempreendimentos. Mas a queda entre mulheres acima de 40 anos é real e reflete um conjunto de mudanças profundas no ritmo de vida e nas expectativas sociais. Ainda assim, práticas manuais continuam renascendo em formatos novos, mais ligados à expressão pessoal e ao bem-estar do que à obrigação doméstica do passado.

Matéria: Aurélio Fidêncio
Informações: Secretaria de Segurança Pública do Paraná
Clickaraçoiaba. A Voz Confiável da Cidade Desde 1999.


Aproveita para participar de nossa enquete:

O Futuro de Araçoiaba: Qual é a maior prioridade para nossa cidade?

View Results

Carregando ... Carregando ...

Campartilhe.

Sobre o Autor

Deixe Um Comentário