
Pacientes relataram retenção de documentos, metas de venda e restrições internas; caso envolve unidade terapêutica que atua na região
A Polícia Civil abriu investigação para apurar possíveis irregularidades envolvendo uma clínica de reabilitação com sede em Araçoiaba da Serra, após pacientes serem abordados enquanto vendiam sacos de lixo em praça pública no município de Taquarituba, no interior de São Paulo. Os relatos iniciais indicam práticas que levantaram suspeitas sobre as condições de permanência e funcionamento da instituição, que agora é alvo de apuração formal.
A ocorrência que deu origem à investigação foi registrada na tarde de segunda-feira (15), quando agentes da Guarda Civil Municipal de Taquarituba identificaram um grupo de pessoas comercializando sacos plásticos de lixo na Praça da Matriz. Ao serem abordados, os indivíduos informaram que pertenciam a uma comunidade terapêutica localizada em Araçoiaba da Serra e que as vendas tinham como objetivo custear o próprio tratamento.
Diante das informações apresentadas no local, os guardas passaram a aprofundar o contato com os pacientes, que relataram uma série de práticas internas adotadas pela instituição. Entre os pontos mencionados estavam a existência de metas de venda, punições em caso de descumprimento de regras internas e a retenção de documentos pessoais e aparelhos celulares enquanto permaneciam vinculados ao tratamento.
Segundo os relatos colhidos, a alimentação fornecida pela clínica também teria sido apontada como insuficiente. Os pacientes afirmaram ainda que, em determinadas situações, era oferecido rapé, uma forma de tabaco em pó, no lugar de medicamentos, prática que teria sido utilizada como espécie de recompensa pelo cumprimento das metas estabelecidas pela coordenação.

Com base nesses elementos, os pacientes foram encaminhados à Delegacia de Polícia Civil de Taquarituba, onde prestaram depoimento. Ao todo, oito pessoas foram identificadas como possíveis vítimas das irregularidades em apuração. Durante a ação, também foram apreendidos dois aparelhos celulares, sendo um pertencente ao motorista da van que transportava o grupo e outro ao coordenador responsável pela equipe.
Além dos celulares, os agentes recolheram os sacos de lixo que estavam sendo vendidos, uma porção de rapé com cerca de 15,8 gramas e a van utilizada para levar os pacientes a diferentes cidades da região. O veículo foi localizado e apreendido como parte das diligências iniciais.
O caso foi formalmente registrado na Delegacia de Polícia Civil de Taquarituba e segue sob investigação. As autoridades agora trabalham para verificar a regularidade das atividades desenvolvidas pela clínica, as condições de permanência dos pacientes, os vínculos estabelecidos com a instituição e se houve qualquer tipo de violação de direitos durante o período em que permaneceram no local.
A Prefeitura de Taquarituba confirmou, por meio de nota, que acompanha as investigações e que há apuração em andamento sobre possíveis irregularidades envolvendo uma comunidade terapêutica da região de Araçoiaba da Serra que também atuava no município. O Executivo informou ainda que os responsáveis pela instituição já foram oficialmente notificados, mas até o momento não houve resposta formal.
Procurada pelas autoridades, a clínica de reabilitação instalada no Jardim Arco Verde, em Araçoiaba da Serra mencionada no boletim de ocorrência, não apresentou manifestação até o fechamento desta matéria. A Polícia Civil informou que novas informações poderão ser divulgadas conforme o andamento do inquérito e ressaltou que todas as partes envolvidas terão assegurados o contraditório e a ampla defesa.
Casos envolvendo comunidades terapêuticas costumam exigir apuração criteriosa, especialmente por envolverem pessoas em situação de vulnerabilidade, muitas delas em busca de tratamento para dependência química. As investigações buscam esclarecer se as práticas adotadas estavam dentro dos parâmetros legais e sanitários exigidos para esse tipo de instituição.
A investigação em torno da clínica de reabilitação com sede em Araçoiaba da Serra segue em andamento e ainda está em fase inicial. As autoridades apuram os relatos apresentados pelos pacientes e analisam os materiais apreendidos para esclarecer os fatos. Até a conclusão do inquérito, o caso permanece sob análise, sem qualquer julgamento definitivo sobre responsabilidades.
Matéria: Aurélio Fidêncio
Informações: Grupo Globo
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